“Eu não quero mais me tratar assim”: um manifesto de autocompaixão
- Laura Borelli
- 25 de jun.
- 2 min de leitura
“Eu não quero mais me tratar assim.” Sim, eu disse isso — e foi um momento bonito de autocompaixão.

Já aviso que este texto contém um assunto sensível e uma boa dose de vulnerabilidade.
Desde que me entendo por gente, tenho questões com o meu corpo. Demorei para entender que eu poderia ser amada e respeitada, independentemente do tamanho dele. E às vezes, eu mesma me pego me desrespeitando. Nosso presente é cheio de rastros do passado, e parece que alguns pensamentos automáticos vêm direto da Laura criança ou adolescente. Vou contextualizar.
Um dia, eu estava no pilates, em um aparelho que não gosto muito — e que fica bem em frente ao espelho. Não sei se não gosto dele por isso ou apesar disso. Durante um exercício de mobilização, eu observava no espelho minha coluna formando um “C” e encarava minha barriga ficando redondinha embaixo das minhas mãos. Como isso me incomodou!
Minha professora me perguntou se eu estava com alguma dor, e me dei conta de que eu estava com “cara de dor”. Respondi: “estou com dor nos olhos de olhar minha barriga no espelho”. Ela, super empática, me disse: “Ah, Laura, por que a gente é assim?!”, se incluindo na autocrítica. E eu, surpreendentemente, disse: “Sabe de uma coisa? A gente é assim porque foi isso que a gente aprendeu a vida inteira. Mas eu não quero mais ser tão dura comigo mesma.”
Pensei o quanto eu estava sendo violenta comigo, e com tantas outras mulheres, por conta desse pensamento gordofóbico que cresceu como um vírus de computador na minha mente. Lembrei o quanto é difícil receber qualquer tipo de comentário — negativo ou mesmo positivo — sobre o meu corpo. Mesmo não estando confortável com ele, reconheço que é meu, e que me permite tanta coisa, inclusive experimentar prazer!
Ouvi num podcast que, às vezes, a gente aniquila o corpo, existindo apenas do pescoço pra cima, no mental. Achei forte a palavra “aniquilar”. Mas fez tanto sentido! É mais uma forma de esquiva experiencial, como falamos na ACT. Uma forma de evitar experiências dolorosas. Meu corpo já foi motivo de constrangimento e vergonha, formas sutis de violência. E, às vezes, esses sentimentos me visitam.
Nesses momentos, a Laura de hoje precisa ficar esperta para quebrar o automático e, em vez de entrar no ciclo de violência, escolher um caminho novo: o da autocompaixão. Eu pego a Laurinha do passado, coloco no colo e abraço. Repito para mim mesma:
Eu posso cuidar de mim e ser do meu tamanho. Eu posso ser grandona no sentido literal e não literal. Eu posso ser amada e respeitada como eu sou. Eu posso me amar e me respeitar como eu sou.
Porque amar o meu corpo é também um ato de coragem.
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