O que você precisa?
- Laura Borelli
- 11 de jun.
- 2 min de leitura

Se para Freud a culpa é da nossa mãe, para os analistas do comportamento, a responsabilidade está na nossa história de aprendizagem. E adivinhe? Nossa mãe faz parte dessa história de aprendizagem. Esta é uma história sobre a minha mãe e eu.
Minha mãe é aquela pessoa que está sempre fazendo alguma coisa. Ela foi professora, é rápida, sagaz, esperta, domina a arte do improviso e é PHD em dar um jeitinho. Ela pinta, costura, constrói, é ótima com plantas e animais. A única coisa que ela está aprendendo é a ser calma. Para ela, só escutar nunca parece o bastante, sempre precisa achar uma solução para todos os problemas do mundo.
Um dia, eu estava reclamando das peripécias do Oliver, meu cachorro, que no auge da destruição das coisas, ainda não tinha um ano de vida. Eu reclamei sem parar. Já esperava ouvir um “eu avisei”, seguido por um discurso sobre por que eu não deveria ter adotado um cachorro vira-lata sem saber o tamanho que ele ficaria, morando em um apartamento pequeno.
Esperei pela sensação de incompetência porque tinha certeza de que ela iria dizer que eu não daria conta de cuidar dele. Já me preparava para me defender e reafirmar o quanto meu cachorro é importante para mim.
Eis que ela parou o que estava fazendo, depois de me ouvir reclamar, e disse: "O que você precisa?"
Estranhei. Houve um silêncio de alguns segundos. Cadê as réplicas, as soluções, as críticas? Então me lembrei e falei: "Você está usando a comunicação não violenta!" Ela respondeu animada: "É! Fiquei orgulhosa de mim!"
E foi mesmo um motivo de admiração! Ela participa de um grupo de estudos sobre temas de autodesenvolvimento e estavam explorando a comunicação não violenta (CNV). E eu já fiz e ministrei cursos e palestras sobre CNV.
Às vezes, a gente esquece que tem uma ferramenta poderosa para lidar com os desafios da vida.
Na CNV, somos convidados a observar nossos sentimentos e necessidades com atenção e curiosidade. Os sentimentos são mensageiros e aparecem quando há uma necessidade a ser atendida. Quando identificamos essa necessidade, somos capazes de buscar caminhos saudáveis para supri-la.
Por trás da minha reclamação, havia uma necessidade esperando para ser descoberta.
Quando ela me perguntou o que eu precisava, tive uma sensação de vazio na mente. O fluxo de pensamentos de reclamação e de defesa dos meus argumentos cessou.
A princípio, pensei que precisava apenas reclamar mesmo, porque estava cansada da sobrecarga.
E então percebi que eu estava cansada.
Eu disse a ela, e conversamos sobre isso.
Foi um dia que guardo com carinho no coração. Houve primeiro uma conexão, e depois uma solução.
E você, do que você precisa hoje?
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Laura Borelli
Psicóloga CRP 06/103841
Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem
Especialista em Terapia de Aceitação e Compromisso
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Publicação autorizada pela senhora minha mãe. Publicado em 11 de junho de 2025.
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